A bailarina e a dor

Aí está um assunto que merecerá vários posts. De nossa relação com a dor até o que efetivamente se transforma em um caso (médico) sério, uma coisa é certa: no momento em que colocamos as sapatilhas pela primeira vez, a dor sempre será nossa companheira.


Vou começar com essa relação simbiótica que só as bailarinas entendem. Salvo no caso dos masoquistas, não gostamos de sentir dor. Aliás, o nosso corpo reage instintivamente nesse caso. Duvida? Peça a alguém para te beliscar bem forte…
Quando começamos no ballet, a primeira manifestação é da dor muscular. “Deve ser porque sou sedentária”, a gente pensa. Nada. Volta e meia ela aparece, seja numa aula mais puxada, depois de um tempo parada, ou quando fazemos várias aulas seguidas. E não reclamamos.
Depois chega o momento das sapatilhas de ponta. Nem faz muito tempo, mas lembro claramente da minha primeira aula. As minhas sapatilhas estavam justas, então eu resolvi não usar ponteira, apenas esparadrapo em alguns dedos. A aula durou 1h30 e foi inteira feita nas pontas. Pensem no que eu sentia quando terminou… Foi o meu batismo. Dali em diante, eu descobri o que estava a minha espera.
A dor passa? Não, a gente acostuma. Porém, conforme o tempo e a técnica avançam, ela aumenta, porque o ballet pede mais do corpo. E quem disse que bailarina aquieta? Nem por um segundo. Preferimos suportar em silêncio do que colocar as sapatilhas no canto.
Aí está um dos grandes aprendizados de uma bailarina: seguir sorrindo mesmo que esteja morrendo de dor. Depois do ballet clássico, nunca mais expus sofrimento meu publicamente. Aprendi o quanto  é necessário suportá-lo para que eu consiga brilhar na vida.
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Este vídeo é a abertura do filme O despertar do amor. O que “aparece” nas sapatilhas é cenográfico, mas quem é sensível à sangue, melhor não assistir.

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